segunda-feira, 26 de outubro de 2009

RECEITA DE ANO NOVO

Carlos Drumond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o
tempo já corrido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
Para você ganhar um ano, não apenas
pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas, novo nas sementinhas de vir-a-ser, novo
Até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se
nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama, se
compreende,
se trabalha,
você não precisa beber champanha ou
qualquer outra birita
Não precisa expedir nem receber mensagem
(planta recebe mensagem? passa telegrama?)
não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta
não precisa chorar do arrependido pelas
besteiras consumadas,
nem parvamente acreditar que por decreto
de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja
tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as
nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito
augusto de viver
Para ganhar um Ano Novo que mereça este
nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de
fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil, mas tente, experimente,
consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e
espera desde sempre.

PTC, Xtmas 2008.

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